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De que forma a inteligência artificial está a redefinir a cibersegurança nas escolas

Realidade da Manhã

É a primeira aula do dia num movimentado agrupamento de escolas. Os professores estão a abrir os seus sistemas de gestão de aprendizagem para marcar presenças, a preparar os slides da lição e a responder a algumas mensagens de encarregados de educação. Os alunos ligam os Chromebooks depois de uma última visita ao Snapchat, antes de deixarem os telemóveis nos cacifos. No departamento financeiro, os pagamentos estão a ser processados. Mais abaixo no corredor, uma pequena equipa de TI tenta manter o controlo sobre um firewall parcialmente atualizado e uma VPN antiga, enquanto lida com uma ligação Wi-Fi lenta e um conjunto disperso de aplicações em nuvem ligadas entre si por sistemas de identidade desatualizados.

Este é o quotidiano tecnológico do ensino básico e secundário. É caótico, subfinanciado e vulnerável. Por isso, as escolas continuam entre os principais alvos de ransomware, segundo alertas conjuntos do FBI e da CISA. Os custos de recuperação no ensino básico e secundário mais do que duplicaram em 2024. Os atacantes sabem exatamente onde se estão a meter: equipas de TI reduzidas, orçamentos cada vez mais curtos e um emaranhado de software educativo especializado que nunca foi concebido com a segurança em mente.

Paradoxo da Inteligência Artificial

Hoje em dia, em quase qualquer agrupamento de escolas, é possível observar um paradoxo. As salas de aula fervilham com ferramentas baseadas em IA para planificação de aulas, apoio ao estudo e até avaliação. Ao mesmo tempo, os departamentos de TI estão sobrecarregados, a tentar proteger infraestruturas concebidas para outra era, com firewalls antiquados, VPNs instáveis e sistemas de identidade que nunca foram pensados para travar atacantes com passwords e técnicas de evasão de MFA. Neste contexto, a IA surge simultaneamente como salvadora e sabotadora.

A IA amplifica o risco. Os atacantes podem usá-la para gerar e-mails de phishing impecáveis que parecem vir da direção da escola, ou para criar falsas oportunidades de bolsas de estudo com gramática perfeita e logótipos credíveis. Podem imitar a página de início de sessão de um sistema de gestão de aprendizagem de forma tão convincente que até o pessoal mais cauteloso pode não reparar. A IA também pode automatizar ataques a credenciais, explorando contas fracas de alunos, contornando MFA através de fadiga ou roubo de cookies e disfarçando tráfego malicioso como atividade normal. E a ameaça não se limita a uma única escola. Compromissos na cadeia de fornecimento — em sistemas de informação de alunos, CRMs de antigos estudantes, softwares de cantina ou transporte — podem propagar-se a dezenas de agrupamentos.

Regulamentação acompanha

Enquanto os atacantes avançam rapidamente, os reguladores começam a apertar o cerco. As autoridades federais e estaduais estão a atribuir às escolas maior responsabilidade na proteção dos dados dos alunos. O que antes se aplicava apenas a empresas privadas está agora a ser estendido ao ensino público. Os agrupamentos terão de demonstrar mecanismos mais rigorosos de verificação de identidade, maior proteção da privacidade e registos de auditoria verificáveis. Fazer o melhor possível deixará de ser suficiente — será necessário apresentar provas de conformidade. Existem já programas de apoio e financiamento, como os da FCC, para ajudar nesta transição, nomeadamente no reforço de soluções de MDR, EDR e firewalls.

IA para a Defesa

Mas a IA não é apenas uma arma dos atacantes. É também a maior oportunidade dos defensores. Integrada corretamente nos sistemas escolares, pode analisar milhões de sinais diários e destacar apenas os que realmente importam. Pode identificar o Chromebook que se liga às duas da manhã, detetar transferências de dados invulgares ao fim de semana e isolar automaticamente um dispositivo comprometido antes que o dano se propague. Para os diretores de TI que gerem milhares de terminais com equipas reduzidas, esta automação não é opcional — é uma questão de sobrevivência.

A chave está na usabilidade. As escolas não precisam de mais um painel de controlo ou de mais um dilúvio de alertas. Precisam de IA integrada nas ferramentas que já utilizam: firewalls capazes de decifrar e filtrar tráfego malicioso, soluções de proteção de endpoints que contenham infeções de imediato e sistemas de identidade que se adaptem em tempo real a inícios de sessão suspeitos. As informações devem convergir numa única visão, permitindo que um diretor de TI tome decisões rápidas sem alternar entre dezenas de dashboards. Assim, a IA torna-se um multiplicador de força em vez de um fardo adicional.

A Vantagem do Atacante

Os atacantes não estão parados. Já não precisam de semanas para criar malware ou campanhas de phishing. A IA generativa permite-lhes produzir instantaneamente mensagens convincentes, supostamente enviadas pela direção de uma escola ou por programas de bolsas de estudo. A IA pode reproduzir páginas de autenticação com precisão milimétrica. Ferramentas automatizadas podem rodar passwords, adaptar-se a pedidos de MFA e camuflar tráfego malicioso em meio a atividade legítima.

Mais preocupante ainda, os atacantes estão a mudar o foco para a cadeia de fornecimento. Um único comprometimento num sistema de informação de alunos ou numa aplicação de transportes pode afetar dezenas de agrupamentos em simultâneo. Com a automação da recolha de informações e das intrusões, o ambiente de ameaça torna-se mais rápido, mais barato e muito mais escalável para os adversários.

Dilema do CIO

Os responsáveis pelos agrupamentos enfrentam um dilema difícil. As salas de aula precisam de tecnologia moderna para acompanhar o ritmo da aprendizagem dos alunos, sobretudo agora que as ferramentas de IA se estão a tornar parte integrante dos trabalhos escolares. Ao mesmo tempo, os reguladores estão a apertar as exigências em matéria de privacidade e segurança dos dados. Leis que antes se aplicavam a empresas estão agora a ser aplicadas às escolas públicas, impondo controlos mais rigorosos e provas de conformidade.

No meio deste equilíbrio precário está o CIO ou diretor de TI, a tentar manter sistemas legados operacionais, a repartir uma equipa reduzida por milhares de contas e a decidir constantemente se o orçamento limitado deve ser investido nas salas de aula ou na cibersegurança. A realidade é dura: a maioria dos agrupamentos nunca conseguirá contratar os analistas e engenheiros que as empresas consideram essenciais.

Perspetivas Futuras

O futuro da cibersegurança no ensino básico e secundário dependerá do equilíbrio. A IA tornará os ataques mais rápidos, convincentes e difíceis de detetar. Mas, ao mesmo tempo, oferece às escolas a oportunidade de reforçar as defesas sem aumentar as equipas. O sucesso dependerá da integração: garantir que a IA fortalece as defesas existentes, em vez de criar novos silos, e exigir que os fornecedores desenvolvam soluções pensadas para a realidade híbrida e financeiramente limitada da tecnologia educativa.

Proteger as salas de aula já não se resume a filtros, atualizações ou à delegação de responsabilidades num fornecedor SaaS. Trata-se de salvaguardar os sistemas, os dados e a confiança que mantêm o ensino a funcionar. A IA será, sem dúvida, parte do problema da cibersegurança no ensino. Mas, se for utilizada de forma inteligente, poderá tornar-se também a parte mais poderosa da solução.